O ensino e a experimentação prática das softs skills nos currículos das graduações de Direito no Brasil são bastante desprestigiados. Todo ano diversos estudantes ingressam nas mais de 1500 faculdades de Direito, porém fica a questão: será que o bacharelado jurídico realmente prepara seus discentes para atuar na advocacia e serem competitivos no mercado jurídico?
Neste artigo, aprofundaremos nossa análise em um desafio que enfrentamos na formação jurídica brasileira e como podemos transformar esse obstáculo em trampolim para o crescimento profissional dos/as futuros advogados/as.
Sumário
Pensar e agir como advogado/a
Alguns apontam que “pensar como um/a advogado/a” seria redefinir situações complicadas de conflito real ou potencial como oportunidades para avançar uma causa do cliente, por meio de argumentação jurídica perante um juiz ou por meio de negociação, por exemplo; enquanto que por “agir como um/a advogado/a” entendem o foco casual dado ao ensino de como devem usar o pensamento jurídico diante da complexidade dos conflitos e da prática real da profissão.
Portanto, há no ensino do Direito o desafio de se articular conhecimento técnico e jurídico às reais necessidades dos advogados e do público que a profissão se compromete a servir.
Qualidade no ensino jurídico
Neste cenário, uma educação jurídica de qualidade deve procurar unir os dois lados desse conhecimento jurídico:
1. o conhecimento formal do Direito em si:
Trata-se de uma jornada de aprendizado que permita ao discente examinar os diversos ramos do Direito e suas correlações com outras áreas do conhecimento de maneira técnica, crítica e analítica.
2. a experiência real da prática da advocacia:
Perpassa a formação técnica e profissional do advogado articulada ao desenvolvimento das competências e habilidades interpessoais e comportamentais, denominadas soft skills, necessárias para que os/as alunos/as tenham uma atuação mais assertiva em sua futura carreira jurídica, especialmente com o advento das novas tecnologias que tem impactado o Direito, como, por exemplo:
- resolução de conflitos online,
- proteção de dados e segurança cibernética,
- open banking,
- impressão 3D,
- jurimetria,
- legal analytics,
- robótica,
- nanotecnologia,
- realidade aumentada,
- internet das coisas,
- block chain,
- criptoativos,
- computação quântica,
- cloud computing,
- inteligência artificial.
Ir além dos hard skills
Tradicionalmente, o foco das seleções de candidatos no mercado jurídico sempre focou predominantemente nas habilidades técnicas dos advogados, como, por exemplo:
- experiência jurídica comprovada em estágios ou empregos anteriores;
- conhecimentos acadêmicos e técnicos específicos, advindos da graduação em Direito, cursos de extensão ou de programas de pós-graduação nacionais ou estrangeiros em Direito e;
- capacidades práticas, avaliados por meio de exames e testes específicos, como, por exemplo, a prova da Ordem e demais concursos públicos.
Soft skills jurídicas?
Essas habilidades comportamentais no direito podem ser divididas em duas categorias principais:
(i) habilidades interpessoais que incluem:
- honestidade
- integridade
- maturidade
- confiabilidade
- julgamento
- paixão
- motivação
- engajamento
- diligência
- autoconfiança
- tolerância
- paciência
- independência
- adaptabilidade
- humor geral
- gestão do estresse e autodesenvolvimento profissional e contínuo
(ii) habilidades sociocomportamentais, que se referem a:
- como lidar eficazmente com os outros
- compreender o comportamento humano
- ter empatia
- saber ouvir as partes envolvidas num assunto jurídico
- questionar para compreender melhor a causa dos problemas
- aconselhar as partes a resolverem seu conflito amigavelmente
- influenciar positivamente sua equipe de trabalho
- incutir a confiança de seus colegas em você
- prospectar e manter clientes
- desenvolver networking, dentre outras.
Seja você líder de uma equipe de advogados, recém formado, professor ou estudante de um curso de Direito, há soft skills essenciais que precisam ser aprendidas para que melhore sua atuação jurídica, e as dicas abaixo lhe ajudarão nesse percurso.
Aprenda a identificar possíveis barreiras de comunicação
Nem sempre a comunicação entre as partes, pessoas ou colaboradores num ambiente de trabalho jurídico é tão simples como gostaríamos que fosse.
Suposições, julgamentos, preconceitos e a falta de clareza podem prejudicar até mesmo os planos mais bem elaborados. Portanto, é importante sempre saber:
- se existem ideias e preconceitos subjacentes que precisam ser abordados; e,
- se há suposições feitas com o devido esclarecimento.
Ao identificar essas barreiras, pode-se começar a retirá-las para abrir caminho a uma comunicação harmoniosa e eficaz.
Solução: da próxima vez que estiver em uma reunião em seu escritório de advocacia ou departamento jurídico, experimente reservar um momento logo no início para observar o contexto e os participantes para checar se de fato estão se entendendo ou apenas concordando. Observe e tente identificar possíveis barreiras que impedem um diálogo mais aberto e honesto. Aproveite para observar também suas próprias suposições, ideias preconcebidas, preconceitos e barreiras de comunicação.
Exercite escuta ativa e inclusiva
Saber escutar é fundamental na advocacia. Pratique o ato de ouvir sem interromper. Isso não apenas mostra respeito, como também abre a porta para uma compreensão e conexão mais profundas.
Solução: Em seu próximo diálogo ou reunião de trabalho, experimente concentrar-se inteiramente no que o outro tem a lhe dizer. Evite distrações e tente compreender a perspectiva da outra parte ou pessoa envolvida. Como dizem, aprendemos muito ao ouvir e você pode se surpreender com isto.
Adote uma comunicação clara
A forma como nos expressamos é importante.
- Tente usar uma comunicação clara, simples e objetiva;
- Evite o “juridiquês”;
- Expresse seus pensamentos e sentimentos sem culpar os outros.
Por exemplo, em vez de dizer “Você nunca me escuta”, tente “Não me sinto ouvido quando minhas ideias jurídicas não são reconhecidas”.
Essa simples mudança de linguagem pode fazer uma grande diferença na forma como sua mensagem é recebida.
Solução: Simplifique sua linguagem, pense e reflita antes de falar e pratique, sempre que possível, técnicas de formulação de perguntas para questões diversas.
Capacite-se em gestão adequada de conflitos
Participe de cursos de gestão de conflitos e fortaleça seu arcabouço técnico jurídico para equipar-se melhor com as ferramentas e técnicas necessárias para navegar em situações difíceis e resolver os problemas de maneira eficaz.
Solução: Procure cursos de gestão de conflitos, de mediação e de facilitação de diálogos em instituições de ensino renomadas, que consigam aliar as habilidades técnicas necessárias com as soft skills numa jornada de aprendizagem adequada, como é desenvolvido nas trilhas de conhecimento da HOUSE.
Mantenha-se sempre atualizado nos temas jurídicos de seu interesse profissional
Por fim, e não menos importante, mantenha sua leitura em dia, sintonize-se com as novidades no universo jurídico, aproveite para afinar seu pensamento sistêmico e compartilhe suas ideias e saberes de forma ética e colaborativa.
Tenha em mente que conflitos são inevitáveis, mas podemos transformar estes desafios em oportunidades de crescimento profissional.
Conclusão
Apresentar apenas habilidades técnicas apuradas não é mais garantia de sucesso a longo prazo na carreira jurídica.
As soft skills relativas à criatividade, colaboração e trabalho em equipe são também fundamentais em sua formação profissional no Direito e o equilíbrio ideal entre as habilidades técnicas e sociocomportamentais é atualmente percebido como a chave mestra para uma jornada bem-sucedida na advocacia moderna.
Perguntas Frequentes
O que são soft skills no contexto do Direito?
Soft skills são habilidades interpessoais e sociocomportamentais que complementam o conhecimento técnico jurídico. Elas envolvem comunicação eficaz, resolução de conflitos e trabalho em equipe, entre outras competências.
Por que as soft skills são importantes para advogados?
Soft skills ajudam advogados a se destacarem no mercado jurídico, facilitando a comunicação, resolução de conflitos e gestão de equipes, além de serem essenciais em um mundo jurídico cada vez mais impactado pelas novas tecnologias.
As graduações de Direito no Brasil incluem o ensino de soft skills?
O ensino de soft skills nas graduações de Direito no Brasil ainda é desprestigiado, com foco maior em habilidades técnicas. Contudo, há uma crescente demanda por essas competências no mercado.
Quais são os desafios no ensino do Direito no Brasil?
O principal desafio é equilibrar o conhecimento técnico jurídico com as habilidades práticas e comportamentais necessárias para o exercício da advocacia moderna.
Como as novas tecnologias impactam a prática do Direito?
Tecnologias como inteligência artificial, blockchain, jurimetria e proteção de dados têm transformado o campo jurídico, exigindo que advogados dominem tanto hard skills quanto soft skills para se manterem competitivos.
Quais soft skills são essenciais para advogados?
Habilidades como honestidade, empatia, escuta ativa, resolução de conflitos e gestão do estresse são essenciais para advogados, permitindo-lhes lidar melhor com clientes, colegas e conflitos no ambiente jurídico.
Como um advogado pode desenvolver soft skills?
Advogados podem desenvolver soft skills participando de cursos específicos, praticando escuta ativa, adotando uma comunicação clara e aprendendo a identificar e remover barreiras de comunicação.
O que significa “pensar como advogado”?
Pensar como advogado envolve redefinir conflitos como oportunidades, usando argumentação jurídica para avançar a causa do cliente, seja em juízo ou em negociações.
Como a gestão de conflitos pode ser aprimorada na advocacia?
Advogados podem se capacitar em gestão de conflitos por meio de cursos específicos e treinamentos que unem técnicas jurídicas e habilidades comportamentais.
Por que é importante se manter atualizado no universo jurídico?
Manter-se atualizado nas tendências jurídicas e tecnológicas permite aos advogados afinar suas habilidades e estar preparados para os desafios do mercado, transformando conflitos em oportunidades de crescimento.