Tendências de Design 2025 para Inovar nos Serviços Jurídicos

A transformação digital que experimentamos nos desafia continuamente a repensar como advogados, e o próprio Direito, podem se manter sintonizados, relevantes e inovadores.

O Relatório de Tendências iF Design Trend Report 2025, publicado pela quarta vez agora em abril de 2025, em parceria com o The Future:Project, oferece uma visão sistêmica das tendências de design atuais e as relaciona a importantes desenvolvimentos tecnológicos e sociais.

Além disso, propõe seis grandes áreas de transformações que contribuem para moldar o futuro de produtos, serviços e experiências. Mas o que isso têm a ver com o Direito? Muito. Neste artigo, vamos traduzir essas tendências para o universo jurídico, para que você possa refletir e atuar com mais foco e inteligência em sua atividade jurídica.

Você ainda acha que o Direito é imune à disrupção?

Como se preparar melhor para esses novos cenários?

1. Human Digitality: o Direito na era da IA e da empatia artificial

A primeira tendência apresentada foi “Human Digitality”, que se refere à busca por um novo equilíbrio entre tecnologia e humanidade. Enfatiza a necessidade de que toda iniciativa digital deva ser concebida levando-se em consideração uma abordagem mais humanizada.
Ferramentas de IA mudam o cotidiano de profissionais e exercem grande influência em processos de trabalho. Expandem as oportunidades criativas, mas também trazem consigo novos desafios.

Por um lado, a IA simplifica processos ao automatizar tarefas repetitivas, ao analisar grandes quantidades de dados e prever tendências, o que permite que advogados iterem mais rapidamente, explorem uma gama mais ampla de ideias e as testem com mais eficiência.

Por outro lado, sabemos que existe o risco da IA otimizar padrões conhecidos em vez de realmente gerar inovação jurídica pioneira. Por ser treinada com base em dados pré-existentes, ela pode homogeneizar processos criativos ou reforçar vieses inconscientes. A longo prazo, será um desafio fundamental para advogados encontrarem uma maneira de usar a IA que não limite sua própria intuição e experimentalismo com estipulações algorítmicas.

Portanto, em um mundo onde a IA já atua como assistente, conselheira e até companheira emocional, o Direito pode assumir cada vez mais um papel de mediador entre a máquina e o ser humano​, direcionando o foco para a mediação ética que deve permear as relações entre pessoas e tecnologias.

No campo jurídico, isso significa não apenas entender e regular sistemas automatizados, mas também saber usá-los de forma ética e responsável.

Exemplo do relatório:

O Friend AI Pendant é um assistente emocional com tecnologia de IA responsivo por voz. Funciona como um “amigo artificial” que escuta, responde e acompanha seu usuário. O sistema inclui um pingente para capturar suas palavras e um aplicativo de celular que lhe envia mensagens atenciosas em resposta. Friend proporciona um diálogo útil e apropriado e permite que você se envolva em longas discussões sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para iniciar uma conversa, basta tocar no centro do pingente e expressar sua opinião. O pingente Friend responde com um pulso tátil sutil para que você saiba que está prestando atenção. Seu uso levanta questões críticas sobre privacidade, dependência emocional, confiança e autonomia pessoal​.

Aplicações no Direito:

  • Design explicável para decisões automatizadas;
  • Interfaces jurídicas que considerem questões empáticas;
  • Normas para proteção de dados sensíveis gerados por IA emocional;
  • Regulação de assistentes jurídicos baseados em IA que aconselham emocionalmente;
  • Combate a vieses algorítmicos em decisões automatizadas.

Reflexão: Como podemos “desenhar” serviços jurídicos mais intuitivos, acessíveis e éticos?

2. Conscious Economy: empatia como diferencial jurídico

🧠 Escritórios que cuidam de pessoas, cuidam de seu futuro.

A economia consciente propõe uma nova métrica de sucesso para se pensar além do lucro. Esta tendência aponta para relações mais humanas no consumo, trabalho e serviços.

Propõe uma nova lógica econômica baseada em empatia, bem-estar e colaboração, na qual o foco sai do lucro, como único indicador, e passa a incluir qualidade de vida, participação social e sustentabilidade ecológica como métricas de valor​.

Um passo importante no caminho para uma Economia Consciente é a integração de valores e impacto social positivo nas estratégias corporativas.

O relatório analisa como sistemas assistidos por IA e a empatia artificial criam novas oportunidades para experiências interativas e empáticas do usuário. A empatia e a capacidade de analisar emoções e sentimentos em um nível tecnológico passam a ser vistas como estratégias de mercado.

Neste contexto, é recomendável que escritórios de advocacia e departamentos jurídicos invistam em cultura organizacional, cuidado com talentos e com o design de experiências, inclusive com seus clientes, para que de fato promovam o seu bem-estar (além de satisfação) e a sensação de pertencimento, importante fator para sustentabilidade de marcas e empresas no médio e longo prazo​s.

Aplicações no Direito:

  • Consultorias de ESG como diferencial competitivo;
  • Cláusulas contratuais com foco em saúde mental, empatia e diversidade;
  • Modelos de compliance mais humanizados;
  • Fortalecimento de políticas internas voltadas para o cuidado com os talentos jurídicos.

3. Co-Society: Como o Direito pode reforçar a coesão social?

📣 O Direito pode ser a ponte entre mundos que não dialogam facilmente.

Essa tendência propõe práticas que promovam diversidade, participação e inclusão.

Tal como o design atua muitas vezes como um conector entre objeto ou serviço e seu usuário, numa sociedade polarizada, o Direito tem o potencial inato de contribuir para a promoção da participação civil, harmonização social, respeito à equidade, diversidade e acesso à Justiça.

Modelos colaborativos de mediação, de justiça restaurativa e a multiplicação de juristas “influenciadores sociais” ganham aqui mais protagonismo.
Serviços jurídicos, UX e legal design estão cada vez mais se misturando no dia a dia do Direito.

Aplicações no Direito:

  • Mediação para resolver conflitos;
  • Legal design para ampliar mecanismos de acesso à Justiça;
  • Práticas restaurativas com foco em inclusão social.

Quanto mais complexas as tecnologias se tornam, mais multifacetadas se tornam as relações que construímos com elas. Portanto, numa era marcada por mudanças rápidas, o Direito nos propicia não apenas um arcabouço para compreendê-las, mas também para moldá-las de forma ativa e mais criativa.

4. Mindshift Revolution: repensando estereótipos jurídicos

🎯 Diversidade não é apenas inclusão. É estratégia de inovação.

O relatório aponta uma “revolução mental” contra os padrões, que não mais representam a complexidade das identidades humanas. O Direito, ainda fortemente marcado por estereótipos e rigidez, precisa se reinventar.

Práticas jurídicas mais horizontais, linguagem neutra e espaços de escuta e de colaboração ganham força. E isso não é apenas inclusão — é estratégia e reputação.

Aplicações no Direito:

  • Linguagem neutra e inclusiva;
  • Reformulação de estruturas hierárquicas em escritórios;
  • Criação de ambientes que valorizam pluralidade e saúde mental.

Desafio: Como comunicar autoridade sem rigidez?

5. Eco Transition: o Direito e a lógica da circularidade

♻️ O futuro não é sustentável. É regenerativo.

A lógica linear de produzir, usar e descartar tem sido substituída por sistemas circulares, onde se aproveitam os recursos utilizados pelo maior tempo possível, buscando-se evitar ao máximo o desperdício. Todo resíduo vira recurso, mantendo-se assim a circularidade.

A transição ecológica também atravessa o campo jurídico: de contratos sustentáveis a ESG e compliance, de política ambiental à lógica de circularidade de processos organizacionais em escritórios e departamentos jurídicos.

Portanto, essa tendência pode e deve ser absorvida pelo Direito, especialmente em contratos, licitações e práticas de governança.

Aplicações no Direito:

  • Modelagem jurídica de economias circulares;
  • Criação de cláusulas regenerativas em contratos ambientais;
  • Empreendedorismo social.

6. Glocalization: entre o local e o global, a advocacia do futuro

🌎 Soluções jurídicas precisam de escala internacional e sensibilidade local.

A sexta tendência refere-se a “glocalização”, que une o que há de melhor no global, com o que há de mais autêntico no local.

No Direito, isso se traduz em atuação internacionalizada, mas culturalmente sensível, com soluções transnacionais que respeitem tradições, regras e demandas específicas locais.

Portanto, a compreensão cultural, o uso de dados locais e a adaptação de práticas internacionais ao contexto em particular são diferenciais competitivos.

Aplicações no Direito:

  • Soluções digitais adaptadas à diversidade regulatória;
  • Contratos cross-border com linguagem culturalmente acessível;
  • Advocacia com repertório internacional e sensibilidade regional.

O que o Direito pode aprender com o design?

Assim como o design, o Direito precisa:

  • Projetar experiências (serviços, contratos, processos);
  • Pensar sistemicamente (tecnologia, sociedade e meio ambiente);
  • Colocar o ser humano — e não apenas a norma — no centro das decisões.

O advogado do futuro será também um designer de soluções jurídicas.

Conclusão: você quer acompanhar o futuro ou ajudar a desenhá-lo?

O iF Design Trend Report 2025 não é dirigido apenas a designers; o relatório conversa com todos os profissionais que, de alguma forma, pensam e projetam experiências humanas.

Este relatório nos mostra que o futuro é colaborativo, sensível, sustentável e digital, e que podemos utilizá-lo como uma oportunidade para refletir acerca dos desafios que enfrentamos e que têm impulsionado diversas transformações sociais.

Para quem atua no Direito, isso significa um convite à reinvenção de suas práticas com o apoio do design, da interdisciplinaridade e de soft skills, como a empatia.

Aqui na House of Creative Legal Studies, estamos comprometidos em preparar nossos/as discentes para pensar o Direito com criatividade e atuarem conectados/as às tendências globais.

A pergunta não é se o Direito será impactado, mas como você escolherá participar dessa transformação.

Autor

  • Rafael Alves de Almeida

    Professor, Doutor em Políticas Públicas pelo IE-UFRJ, LLM em Direito pela LSE, CEO House of Creative Legal Studies